Vivência com Aromaterapia em Consultório: Um Diário Sensorial

O Olfato como Porta de Entrada para o Cuidado

Nem sempre somos ensinadas a prestar atenção ao que sentimos. E não falo apenas de emoções — mas das sensações sutis, aquelas que passam pelo corpo de forma silenciosa e deixam mensagens que muitas vezes ignoramos. Meu primeiro contato com a aromaterapia em ambiente clínico não foi planejado. Aconteceu num momento de grande exaustão emocional, em meio a uma busca intuitiva por algo que não fosse apenas verbal, mas que tocasse outras camadas do meu ser.

Logo na entrada do consultório, percebi que algo era diferente. O ar tinha um perfume delicado, quase imperceptível, mas acolhedor. Era como se aquele aroma dissesse: “você pode repousar aqui”. O terapeuta me recebeu com poucas palavras, mas com muita presença — e foi assim que começou uma jornada onde o olfato, esse sentido tão íntimo e ancestral, tornou-se meu guia interno.

Essa experiência marcou o início de um processo de escuta sensorial profunda. Cada aroma, cada toque no óleo essencial, cada respiração consciente despertava não apenas reações no corpo, mas também lembranças, emoções e reflexões que vinham à tona com suavidade e potência. Senti que ali o cuidado não era apenas físico — era vibracional, energético, espiritual.

Este artigo nasce do desejo de registrar essa vivência como um diário sensorial, não apenas para partilhar minha experiência, mas para inspirar outras mulheres a se abrirem para esse tipo de conexão consigo mesmas. A aromaterapia, mais do que uma técnica, mostrou-se um caminho de reconexão com partes minhas que estavam adormecidas. E talvez, se você permitir, também possa tocar algo em você.

Aromaterapia Clínica: Muito Além do Perfume

Quando falamos em aromaterapia, muitas pessoas imaginam um ambiente perfumado com velas e incensos ou um difusor espalhando fragrâncias agradáveis no ar. Mas a aromaterapia clínica vai muito além do apelo olfativo. Trata-se de uma prática terapêutica baseada em evidências que utiliza os óleos essenciais de forma estratégica, respeitando as individualidades bioquímicas e emocionais de cada pessoa.

Aromaterapia recreativa vs. terapêutica

A aromaterapia recreativa tem seu valor: ela proporciona bem-estar momentâneo, cria atmosferas acolhedoras e pode até induzir estados leves de relaxamento. Porém, a aromaterapia clínica atua em outro plano. Ela considera a composição química de cada óleo essencial, sua farmacodinâmica, vias de absorção (olfativa, cutânea, oral em alguns casos específicos) e as respostas fisiológicas que podem ser desencadeadas.

Enquanto o uso recreativo é voltado para o prazer imediato dos sentidos, a abordagem clínica busca equilíbrio sistêmico — emocional, imunológico, neurológico, hormonal e até dermatológico. Por isso, não é uma prática generalista: ela requer conhecimento técnico, sensibilidade e ética.

A ponte entre aroma e emoção: o sistema límbico

O olfato é o único sentido diretamente conectado ao sistema límbico, que é a área do cérebro responsável pelas emoções, comportamentos, memórias e até regulação hormonal. Quando inalamos um óleo essencial, suas moléculas aromáticas ativam receptores olfativos que enviam impulsos elétricos diretamente ao cérebro — em segundos, uma resposta emocional é desencadeada.

Esse é um dos motivos pelos quais certos aromas nos remetem a lembranças da infância, ativam sensação de conforto ou, ao contrário, nos causam repulsa. O corpo “sabe” antes da mente. E é exatamente nesse espaço entre o inconsciente e o sensível que a aromaterapia atua: desbloqueando emoções reprimidas, trazendo clareza, organizando o caos interno.

O papel do aromaterapeuta: escuta e precisão

Engana-se quem pensa que basta escolher um óleo pelo cheiro agradável. Na aromaterapia clínica, o profissional realiza uma escuta profunda — do corpo, da história e da energia da pessoa. A escolha dos óleos não se baseia apenas no diagnóstico físico, mas na leitura emocional, energética e comportamental de quem busca o cuidado.

Por exemplo: lavanda não é sempre calmante — para algumas pessoas com traumas não integrados, pode ativar ansiedade. Óleos como vetiver, bergamota, ylang ylang, laranja doce, camomila romana e sálvia esclareia, entre tantos outros, têm efeitos muito específicos e podem ser combinados com precisão para atender à necessidade emocional e fisiológica do momento.

Além disso, o modo de aplicação (inalação, difusão, massagem, banho de assento, compressa) é escolhido com critério técnico e respeitando condições como alergias, uso de medicamentos, histórico de doenças e estado gestacional.

O Ambiente do Consultório: A Experiência Começa Antes do Toque

Muitas vezes, a sessão de aromaterapia começa antes mesmo que a terapeuta nos cumprimente. Há algo no ambiente terapêutico bem preparado que já começa a atuar silenciosamente em nosso sistema nervoso assim que atravessamos a porta. Não é apenas sobre estética ou decoração: é sobre a criação de um espaço que acolhe, convida e transforma.

O aroma que recebe: o olfato como portal

Ao abrir a porta do consultório, a primeira coisa que me envolveu foi o aroma sutil e terroso de lavanda com laranja doce — como se o ambiente respirasse fundo e me convidasse a fazer o mesmo. Aquele aroma, mais do que cheiro, parecia uma memória. Uma sensação de familiaridade, acolhimento e segurança que começou a se formar antes de qualquer palavra ser dita.

O sistema límbico, onde as emoções ganham forma e cor, já estava sendo tocado sem que eu soubesse. O cérebro começou a desacelerar, a respiração se alongou, e o corpo — ainda em alerta — começou a cogitar a possibilidade de descansar. Esse é o poder do ambiente aromaticamente planejado com consciência.

Luz, som e temperatura: camadas do sensorial

O ambiente não gritava, ele sussurrava cuidado. A luz era suave, com tons quentes. Nada de fluorescentes intensos ou iluminação agressiva. Havia uma vela acesa, mas não pela estética — e sim pela intenção.

Uma música instrumental quase imperceptível tocava ao fundo. A temperatura estava ajustada de forma que nem o corpo quisesse se encolher, nem sentisse letargia. A maca, preparada com lençóis macios e almofadas de apoio, já era convite ao repouso.

Cada detalhe ali parecia convocar o corpo à presença. Não era um cenário montado para relaxar, mas um campo vibracional coerente com o propósito terapêutico.

O acolhimento invisível: o espaço como terapeuta

Antes mesmo do toque físico acontecer, o corpo já se sentia tocado. Tocada pela calma do ambiente, pela ausência de pressa, pela presença sutil da terapeuta que não forçava conversas, mas permitia o silêncio.

Nesse contexto, percebi que o ambiente não é um coadjuvante. Ele é parte ativa da terapia. Ele contém, organiza, prepara, acolhe e inicia a escuta — da pele, do olfato, do ritmo cardíaco.

Ter um espaço com essas qualidades não exige luxo, mas intenção. Intenção em cada aroma escolhido, em cada som emitido, em cada fonte de luz e material que entra em contato com o corpo. Tudo comunica. Tudo cuida.

Escolha Personalizada dos Óleos: A Leitura do Corpo pelo Aroma

Aromaterapia não é sobre cheiros agradáveis — é sobre escutar o que o corpo diz quando a mente ainda silencia. A sessão começa antes da primeira gota cair. Começa com a escuta. Com a presença da terapeuta diante da minha história, do meu corpo naquele dia, do meu estado emocional naquele exato momento.

A escuta antes do toque: corpo, emoção e contexto

Antes do início da sessão, a terapeuta me convidou para um breve diálogo. “Como está sua energia hoje?”, ela perguntou. Mas não era uma pergunta automática. Era um convite para que eu me olhasse com honestidade. Falei de uma leve inquietação, de um cansaço acumulado, de um pensamento recorrente que não se calava.

Ela escutou sem pressa. Avaliou meus padrões de tensão física — ombros elevados, respiração superficial, mãos inquietas. Levou em consideração meu humor, o tempo de sono, minha menstruação que estava por chegar, e a necessidade de me sentir mais centrada.

Os óleos como oráculos do corpo

Com base nessa leitura cuidadosa, a terapeuta começou a apresentar os óleos. Um por um, com um gesto delicado, ela abria o frasco e me convidava a inspirar. Eu não precisava saber qual era — bastava cheirar. Alguns aromas me causavam repulsa imediata. Outros me provocavam um sorriso. Um ou outro despertava uma emoção que eu nem conseguia nomear.

Ela anotava cada resposta e explicava apenas depois. Era um processo intuitivo, mas também técnico. Cada óleo essencial carrega uma função bioquímica e também um significado emocional. Por exemplo:

  • Lavanda para ansiedade e sobrecarga mental.
  • Gerânio para acolhimento do feminino e equilíbrio hormonal.
  • Capim-limão para foco e limpeza energética.
  • Sândalo para enraizamento e reconexão com o sagrado.

Naquele dia, o óleo que mais me tocou foi o de laranja doce. Doce, suave e acolhedor. Segundo ela, um óleo que conversa com a criança interior, o prazer e a espontaneidade. Fez sentido. Eu estava em luta interna contra minha própria rigidez.

Quando o aroma encontra a memória

Ao inalar o aroma, não senti apenas cheiro. Senti lembrança. Um dia de verão na infância. Um bolo de vó. Uma liberdade que parecia esquecida. E então entendi: os aromas são atalhos para lugares dentro de nós que a mente lógica não alcança. Eles tocam memórias adormecidas, acessam camadas emocionais e liberam o que não sabíamos estar guardando.

Essa associação entre sintoma, aroma e memória é o coração da aromaterapia clínica. Não se trata de um óleo para dor de cabeça e outro para ansiedade. Trata-se de entender o que está por trás do sintoma, qual ferida emocional ainda pulsa e qual aroma tem a chave para aquele portão.

A fórmula única de cada sessão

Com a leitura completa, a terapeuta preparou uma sinergia exclusiva: um blend com laranja doce, lavanda e gerânio, diluído em óleo vegetal de semente de uva. Aquela mistura seria usada durante a massagem e também oferecida para eu levar para casa, como um reforço sutil para o campo emocional.

Naquele frasco, havia muito mais que óleos: havia escuta, sensibilidade, presença e alquimia. Era a minha história emocional traduzida em aroma.

O Início da Sessão: O Aroma que Acolhe

Assim que me deitei na maca, ainda envolta pela atmosfera serena do consultório, um gesto simples deu início à experiência: a terapeuta aproximou suavemente um lenço com algumas gotas do blend aromático escolhido. Respirei fundo. Pela primeira vez naquele dia, a respiração desceu até o abdômen.

Inalação: o convite à presença

Na inalação profunda do primeiro aroma, senti como se uma porta se abrisse dentro de mim. Era como se o corpo dissesse: “agora você pode soltar”. O aroma de laranja doce preencheu os espaços internos de forma quase materna. A lavanda trouxe um embalo calmo, quase como um sussurro. O gerânio, com sua força feminina, envolveu meu centro.

A inalação não foi apenas física. Foi emocional. Foi um gesto de acolhimento. Um lembrete de que o corpo é um lugar seguro quando habitado com intenção.

O toque começa com o aroma

A terapeuta aqueceu o óleo vegetal com a sinergia escolhida entre as palmas das mãos. O calor potencializou os aromas. O cheiro se espalhou pelo ambiente, e, com o primeiro toque, senti o corpo descer um degrau em direção ao repouso. A massagem começou com movimentos amplos e circulares nas costas, espalhando lentamente o óleo pela pele. Cada gesto era um convite à desaceleração.

O aroma seguia guiando. Ele era como uma trilha invisível, conduzindo minha mente acelerada para um estado mais silencioso. Já não havia necessidade de entender nada. Só sentir.

Primeiras sensações: corpo e emoção em diálogo

Nos primeiros minutos, um calor suave se espalhou pelo meu corpo. Sentia os músculos responderem ao toque como se tivessem esperado por aquilo há muito tempo. A tensão se dissolvia de maneira sutil, sem esforço. A sensação era de ser acolhida, não apenas na pele, mas também nas emoções.

Pude notar o quanto o aroma também influenciava meu campo emocional. Uma melancolia leve surgiu sem explicação, seguida de um estado de quietude. Era como se algo antigo estivesse sendo liberado em silêncio, sem drama, apenas com presença.

O aroma como linguagem silenciosa

Ali, naquela combinação de toque e aroma, entendi algo que a mente ainda não havia nomeado: o aroma fala com aquilo que é mais íntimo em nós. Ele não exige palavras, não força respostas. Apenas convida. Ele ensina o corpo a confiar, a abrir, a sentir. Ele transforma o espaço terapêutico em um templo de reconexão sensorial.

O cheiro não é só perfume — é ponte. Ponte entre a superfície da pele e a profundidade da alma. E, naquela primeira fase da sessão, foi ele quem sustentou o silêncio confortável, o acolhimento e o início da entrega.

O Corpo Reage: Memórias, Emoções e Sensações

Há uma sabedoria silenciosa que habita o corpo. Durante a sessão de aromaterapia, essa sabedoria não apenas se manifestou — ela falou alto, através de suspiros profundos, arrepios e lágrimas inesperadas.

Reações inesperadas: quando o corpo solta o que a mente retém

Nos primeiros minutos, enquanto o aroma envolvia o ambiente e as mãos da terapeuta deslizavam lentamente pelas costas, percebi meu corpo reagindo de maneira espontânea. Os ombros, que sempre carregavam um peso invisível, começaram a ceder. As pálpebras ficaram pesadas. A respiração, antes curta, se expandia com leveza. E então… as lágrimas vieram.

Sem aviso, sem tristeza. Um choro limpo, ancestral, como se o corpo estivesse lavando antigas emoções guardadas. O toque em uma área específica — entre as escápulas — trouxe à tona uma lembrança antiga, esquecida: uma cena da infância, associada à sensação de desamparo. Não era dor. Era liberação.

Sinestesia: o toque encontra o aroma e desperta a emoção

A experiência foi marcada por uma sinestesia intensa. O aroma do óleo de lavanda parecia ter cor. As mãos da terapeuta pareciam emitir som. Havia uma dança sensorial acontecendo — como se pele, cheiro e sentimento formassem uma coreografia única.

É nesse encontro entre sentidos que o corpo encontra um caminho seguro para processar emoções. O toque fala com a pele, o aroma com o inconsciente, e juntos, eles ativam memórias, dissolvem tensões e acessam regiões do ser onde a palavra não alcança.

O olfato como acesso à memória emocional

A ciência já mostrou que o sistema olfativo é o mais diretamente ligado ao cérebro emocional. É por isso que um cheiro pode nos fazer viajar no tempo, revisitar lugares, reviver sensações. E, durante a sessão, isso se revelou com força.

O aroma de gerânio, por exemplo, trouxe à tona uma sensação de acolhimento feminino. Lembranças de momentos de cuidado materno emergiram, assim como o desejo de me cuidar com mais ternura. Já a combinação com o óleo de vetiver trouxe uma presença mais enraizada, como se meus pés, finalmente, tocassem o chão com firmeza.

Um corpo que fala, uma alma que escuta

No fim, saí da maca com a sensação de que meu corpo havia dito coisas que eu não sabia que precisava ouvir. E, mais do que isso, eu tinha escutado. A experiência sensorial foi também uma experiência de escuta — não apenas do aroma ou do toque, mas de tudo o que estava vivo em mim e, até então, silencioso.

O corpo reagiu, sim. Mas não com rigidez ou resistência. Ele respondeu como quem agradece por finalmente ter sido percebido. Como se dissesse: “Obrigada por me tocar com presença. Eu estava esperando por isso.”

Pós-Sessão: O Aroma Que Permanece

A sessão terminou, mas o cuidado não. O corpo havia sido tocado, acolhido, escutado. E, mesmo ao sair do consultório, um traço invisível ainda me acompanhava: o aroma.

A presença sutil do aroma nas horas seguintes

Durante o trajeto de volta para casa, o cheiro dos óleos ainda impregnava a pele — e mais do que isso, habitava o campo emocional. Não era apenas lavanda, gerânio ou vetiver. Era um perfume íntimo de acolhimento, uma assinatura emocional da experiência vivida.

Ao deitar naquela noite, percebi o corpo mais pesado — não de cansaço, mas de presença. A respiração vinha suave, o pensamento não atropelava. O sono chegou sem esforço, e com ele, um sonho leve, tranquilo, como se a alma estivesse sendo embalada por um abraço invisível.

Os óleos como reguladores do humor e do sono

Aromas são mensageiros bioquímicos. Quando inalados, estimulam diretamente o sistema límbico, área do cérebro que regula emoções, sono, apetite e memória. Isso explica por que, nos dias seguintes à sessão, o humor estava mais estável, a mente menos reativa, e o cotidiano parecia menos árido.

Senti mais compaixão pelas pequenas falhas, mais tolerância ao ritmo dos dias. Uma leveza silenciosa acompanhava meus gestos. O uso dos óleos prescritos no consultório continuou em casa — em difusores, no banho, em pequenos toques nos pulsos — e isso prolongou o efeito restaurador da sessão.

O corpo como guardião do perfume terapêutico

Curiosamente, mesmo depois do aroma deixar a pele, o corpo parecia lembrar dele. Era como se a experiência tivesse deixado um registro profundo, não apenas na memória, mas nos tecidos, nos órgãos, nos sentidos.

Pequenos gestos, como tocar o próprio peito ou fechar os olhos em silêncio, ativavam aquela mesma sensação de conforto que senti na sessão. A resposta ao estímulo olfativo tornou-se mais refinada, como se meu sistema interno tivesse sido reeducado para reconhecer o cuidado.

Essa permanência sutil é o que diferencia a aromaterapia clínica de um simples momento de relaxamento. Ela não apenas proporciona bem-estar momentâneo — ela semeia, suavemente, uma nova relação com o corpo, com o sentir e com o viver.

Diário Sensorial: Escrevendo com o Nariz e com a Alma

A escrita como extensão da experiência

Logo após cada sessão, havia sempre algo que queria permanecer. Uma sensação que ainda pulsava, uma emoção que precisava de nome, um cheiro que carregava memória. Foi nesse desejo de guardar — sem aprisionar — que nasceu o diário sensorial.

Nele, não me preocupei com estrutura, ortografia ou estética. Escrevia com o que havia: às vezes uma palavra só, às vezes um parágrafo inteiro. “Maciez no peito”, “cheiro de infância”, “meu corpo me ouviu” — eram fragmentos de presença que, somados, contavam uma história de reconexão.

O registro como ferramenta de escuta interna

Ao reler os escritos de dias diferentes, percebi padrões emocionais e sensoriais. Certos óleos evocavam paz, outros despertavam energia, alguns traziam à tona lembranças esquecidas. Havia ali uma cartografia íntima, onde o olfato conduzia caminhos que a mente sozinha não sabia trilhar.

Escrever não era apenas descrever o que sentia, mas um modo de traduzir o invisível. O toque que acalmou, o aroma que abraçou, a lágrima que caiu sem motivo — tudo ali tinha valor, tudo era expressão legítima de quem eu era naquele instante.

O diário como recurso terapêutico

Mais do que um simples caderno, o diário sensorial tornou-se um companheiro de jornada. Uma espécie de espelho onde me via sem julgamentos. Às vezes, reler uma anotação bastava para reconectar com o estado de calma ou lucidez vivido na sessão anterior.

Levei esse recurso para além do consultório. Usei o diário para registrar momentos do dia em que um aroma me tocava — um chá de lavanda antes de dormir, o cheiro do sol na pele após uma caminhada, o óleo de alecrim que me ancorava antes de uma tarefa difícil.

Ao nomear o que sentia, fortalecia minha consciência emocional e corporal. E quanto mais escrevia, mais sutil e presente se tornava minha escuta. Era como se o corpo, ao ser ouvido, começasse também a sussurrar respostas.

O nariz escreve, o coração interpreta

Na aromaterapia, o cheiro é o primeiro a chegar — antes do toque, antes da palavra. Ele atravessa filtros, alcança memórias, desperta emoções que não sabíamos onde estavam guardadas. E ao escrever sobre isso, algo se organiza internamente.

Percebi que escrever era também um tipo de cura. Não uma cura que resolve ou apaga, mas aquela que acolhe, que revela, que integra. O diário sensorial não era só uma ferramenta, mas um ritual — uma pausa sagrada onde corpo, alma e aroma se encontravam.

Continuidade da Vivência em Casa

Aromaterapia além do consultório

A sessão no consultório plantou sementes. E o convite mais bonito que recebi ao final do processo foi este: levar os aromas comigo. Para dentro de casa, da rotina, da pele e da respiração. Foi assim que a aromaterapia deixou de ser um evento semanal e passou a se tornar parte do meu cotidiano com consciência e intenção.

Incorporar a prática no lar não significa replicar a sessão profissional, mas acolher pequenos rituais diários que prolongam o bem-estar. Uma gota no travesseiro, um aroma no banho, uma massagem nos pés antes de dormir — gestos simples que sustentam o que foi iniciado na sessão.

Recomendações terapêuticas com propósito

Após cada encontro, minha terapeuta sugeria óleos específicos para uso em casa. Os critérios iam muito além da fragrância agradável — eram escolhas baseadas em minha frequência emocional, padrão respiratório e necessidade energética.

Por exemplo:

  • Lavanda para as noites mais inquietas;
  • Bergamota em dias de apatia ou autocrítica intensa;
  • Alecrim nas manhãs de cansaço mental;
  • Gerânio para equilibrar os altos e baixos hormonais;
  • Laranja doce para momentos em que a alegria parecia distante.

Essas indicações vinham sempre acompanhadas de orientações importantes: diluição correta, forma de aplicação, frequência ideal. Com isso, o uso doméstico dos óleos tornou-se seguro e alinhado com minha sensibilidade.

Técnica e intuição: caminhos que se cruzam

Com o tempo, percebi que há algo de profundamente intuitivo no uso dos aromas. Ainda que a técnica seja essencial, há também uma sabedoria interna que reconhece o que precisa ser sentido. Em alguns dias, abria a caixinha de óleos e simplesmente me deixava guiar pelo corpo. O que me atraía? O que me acalmava? O que me afastava?

Essa prática de escuta sensorial refinou minha inteligência olfativa emocional. Passei a entender que certos aromas me tocavam em camadas sutis, outras vezes despertavam memórias, e em muitos momentos me davam exatamente aquilo que eu não sabia que precisava.

Assim, a aromaterapia deixou de ser apenas uma ferramenta de intervenção e se tornou um diálogo constante com meu corpo e minhas emoções.

Ritualizando o dia com aromas

Incorporei pequenos gestos que, mesmo breves, transformavam completamente o meu estado interno:

  • Um rolinho com óleo de hortelã-pimenta aplicado nas têmporas antes de começar o dia;
  • Um difusor com ylang-ylang e sândalo na hora do banho;
  • Um banho de assento com óleo de camomila em dias mais vulneráveis;
  • Uma gota de olíbano nas palmas das mãos, só para respirar com presença no meio do dia.

Essas pequenas ações se tornaram ancoragens de cuidado e de reconexão. Um lembrete de que meu corpo merece escuta, pausa e afeto — todos os dias, e não apenas quando está sobre a maca.

Considerações Finais: O Aroma Como Convite à Presença

Aromaterapia em consultório não foi apenas uma experiência de bem-estar — foi um mergulho no sentir, um convite para desacelerar e ouvir a alma através do corpo. Ao longo das sessões, percebi que o aroma não apenas perfuma o ambiente — ele abre portais internos, dissolve resistências, suaviza memórias e ensina uma nova forma de presença.

O olfato, esse sentido muitas vezes negligenciado no cotidiano, revelou-se um dos canais mais potentes de escuta. Diferente da visão, que julga; do tato, que age; e da audição, que interpreta — o olfato sente sem filtro. Ele desperta o inconsciente, resgata lembranças e atua diretamente sobre o sistema límbico, onde habitam nossas emoções mais primitivas.

Cada óleo essencial com que tive contato carregava uma mensagem sutil, às vezes quase imperceptível, mas que tocava lugares em mim que nem palavras conseguiam alcançar. Com o tempo, fui entendendo que não era sobre o aroma em si — mas sobre o que ele evocava e despertava em mim. Sobre o que me pedia para olhar, soltar, acalmar.

Levei comigo mais do que frascos de óleos — levei ferramentas de reconexão. Gestos simples que me lembram, todos os dias, que o cuidado profundo começa nos detalhes: na forma como respiro, como me toco, como me escuto.

A aromaterapia me ensinou que presença não é apenas estar. É estar sentindo.

Fica aqui o convite: se permita experimentar essa vivência. Entre em um consultório preparado para acolher o que vier. Respire com o corpo inteiro. Sinta o aroma tocar camadas que talvez você nunca tenha notado. Não espere entender — apenas sinta. Porque é nessa escuta silenciosa que mora a cura mais verdadeira.

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